Concessão do salvo-conduto revolta autoridades e imprensa peruana; oposição no Brasil cobra explicações do Itamaraty
A decisão do governo brasileiro de conceder asilo diplomático à ex-primeira-dama do Peru, Nadine Heredia, provocou uma enxurrada de críticas no cenário político e midiático do país vizinho. A medida foi interpretada por setores da opinião pública como um gesto de proteção entre aliados políticos envolvidos em escândalos de corrupção.
Heredia, esposa do ex-presidente Ollanta Humala, desembarcou em Brasília na quarta-feira (16), após receber um salvo-conduto do governo peruano que permitiu sua saída da Embaixada do Brasil em Lima. A ex-primeira-dama foi condenada na véspera a 15 anos de prisão por lavagem de dinheiro, em um processo vinculado aos rees ilegais da empreiteira Odebrecht e do governo venezuelano de Hugo Chávez, usados para financiar campanhas eleitorais de Humala.
Imprensa peruana reage com indignação
A reação no Peru foi imediata e contundente. Jornais e veículos tradicionais estamparam manchetes críticas à decisão do Brasil. O Diario Trome resumiu a indignação popular com a frase: “Entre corruptos, se protegem”. O El Comercio destacou as declarações do ex-chanceler Francisco Tudela, que classificou o asilo como “irregular” e direcionado a alguém que “não se qualifica” legalmente para o benefício diplomático.

Já o jornal Correo ironizou a situação ao afirmar que Heredia “ri da justiça enquanto o marido vai para a prisão”. Ollanta Humala foi preso para cumprimento de pena após ser considerado culpado no mesmo processo. A concessão de asilo à esposa, porém, evitou que ela fosse detida junto ao ex-presidente.
Oposição cobra Lula e Itamaraty
No Brasil, a decisão também gerou desconforto no Congresso Nacional. Parlamentares da oposição protocolaram requerimentos exigindo esclarecimentos ao Ministério das Relações Exteriores sobre os critérios utilizados pelo governo Lula (PT) para acolher Heredia. As críticas se concentram no suposto afrouxamento do compromisso com o combate à corrupção, em especial quando se trata de aliados ideológicos na América Latina.
O Itamaraty, por sua vez, justificou o asilo com base na Convenção sobre Asilo Diplomático de 1954, assinada por Brasil e Peru. A norma permite que embaixadas concedam proteção a indivíduos perseguidos por razões estritamente políticas. No entanto, juristas e autoridades peruanas sustentam que o caso de Nadine Heredia é de natureza criminal, não se enquadrando nas exceções previstas.
Críticas à política externa brasileira
Para analistas, a concessão de asilo à ex-primeira-dama do Peru pode minar a credibilidade internacional do Brasil em temas como cooperação judicial, extradições e combate ao crime transnacional. O episódio levanta um debate sobre os rumos da política externa do governo Lula, especialmente quanto ao tratamento de condenados por corrupção em países latino-americanos.
Heredia, segundo fontes diplomáticas, está atualmente instalada em São Paulo, acompanhada de seu filho adolescente, que também recebeu autorização para residir no Brasil.
PORTAL PARANATINGA – Folha Destra – Foto – Asilo de Nadine Heredia