Profissionais da cultura defendem melhor cadastramento de profissões no Ministério do Trabalho para assegurar direitos

Frederico Barbosa: pesquisa do Ipea apontou falta de proteção trabalhista e direitos

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Associações e profissionais da cultura apontaram nesta terça-feira (3) para a necessidade de melhorar o cadastramento das ocupações do setor do Ministério do Trabalho. O objetivo é assegurar direitos a esses profissionais. O assunto foi discutido pela Comissão de Cultura da Câmara dos Deputados.

Heloisa Lyra Bulcão, representante da Associação Grafias da Cena no debate,  considera que a falta de regulamentação leva à informalidade, com práticas nem sempre adequadas, e perda de direitos trabalhistas. “O mercado de trabalho cultural é notadamente diverso e instável. Muitas das ocupações nesse setor envolvem contratos temporários, trabalho autônomo, projetos intermitentes.”

Para ela, a regulamentação das profissões culturais não representa apenas a formalização das carreiras. “É um o fundamental para garantir o reconhecimento e a valorização adequadas dessa atividade”, ressaltou.

Cadastro
O diretor de políticas para trabalhadores do Ministério da Cultura, Deryk Santana, citou pesquisa realizada pelo Ipea que aponta a necessidade de revisão e atualização do Cadastro Brasileiro de Ocupações (CBO).

Segundo o pesquisador do Ipea, Frederico Barbosa, o mapeamento de atividades profissionais apontou a falta de proteção trabalhista e direitos sociais: 82% dos trabalhadores que responderam a pesquisa não recebem hora extra, metade não tem piso salarial, só 35% tem carteira assinada e 31% têm licença remunerada em caso de doença.

De 20% a 30% das profissões ligadas à cultura são criadas e eliminadas anualmente.

A pesquisa analisou o período de 2018 a 2021, quando o número de contratos intermitentes aumentou quatro vezes. Segundo Barbosa, as atividades não se enquadram adequadamente nas ocupações listadas no cadastro, como as profissões de técnico de áudio, técnicos de som e técnicos de sonorização. “Essas três categorias são sinônimas? A gente não sabe. A gente tem que fazer um trabalho conceitual em cima dessas categorias.”

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Outros exemplos citados por ele são as categorias de diretor de eventos, diretor técnico de eventos e produtor executivo de eventos, além de executivo da área de música e produtor executivo em geral. “É uma questão de nomenclatura? Ou há diferenças na atividade? Existe diferenças nas áreas envolvidas? Eu imagino que sim.”

Bruno Spada / Câmara dos Deputados
Audiência Pública - Segurança jurídica para profissionais da Cultura. Pesquisador do IPEA - Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, Frederico Barbosa
Frederico Barbosa: pesquisa do Ipea apontou falta de proteção trabalhista e direitos sociais

Tainá Rosa, representante do grupo Multicabo, de Minas Gerais, é iluminadora, mas sua atividade tem nomenclatura discutível. “Eu me autodenomino como técnica de luz. Mas uma pessoa na mesma função que a minha, que trabalha no cinema, chama de eletricista, e de fato minha função versa entre as duas coisas, é um trabalho com eletricidade, com altura e um trabalho criativo. E isso gera uma incompreensão de como funciona para quem está fora.”

Ela começou a trabalhar aos 16 anos, mas não vai conseguir se aposentar como eletricista com idade menor pelo risco de trabalho, mesmo que sua função tenha os mesmos riscos.

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Um dos benefícios da melhor regulamentação seria a melhor representação sindical, segundo a procuradora do trabalho Heloísa Siqueira. Segundo ela, isso traria normas coletivas para a categoria, como remuneração mínima e fiscalização de contratos.

Experiência internacional
Para a deputada Erika Kokay (PT-DF), que presidiu a reunião e pediu o debate, a garantia de direitos é fundamental para valorizar a cultura nacional. Segundo ela já existe uma discussão do Ministério do Trabalho com o Ministério da Cultura para proteger os profissionais das artes. Na Câmara, o debate vai continuar.

“Eu penso que a gente deveria fazer, para a gente fechar, uma nova audiência pública com experiências internacionais, a gente tentar trabalhar uma proposição a partir desse projeto de produtores de eventos, de regulamentação de produtores de eventos, onde a gente pode fazer um capítulo à parte, se for o caso, um recorte para os trabalhadores na cultura.”

Outra sugestão é articular com o governo para que, nos futuros editais de cultura, haja aumento de garantias trabalhistas aos profissionais da cultura. Atualmente, a proteção ao trabalhador de cultura está numa lei de 1978 (Lei 6533/78), que regulamenta as profissões de artistas e de técnicos em espetáculos de diversões.

Reportagem – Luiz Cláudio Canuto
Edição – Geórgia Moraes

Fonte: Câmara dos Deputados

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